Tradução — Prayer Rug (Agha S.Ali)
Agha Shahid Ali foi poeta indiano que estimo de grande sensibilidade. Abordou o tema do conflito de Kashmir na sua obra, e traduziu poesia do idioma urdu — sobretudo do poeta Faiz Ahmed Faiz — para o inglês. Jaz em Massachusetts, nos Estados Unidos, onde viveu desde a década de 80. O poema Prayer Rug (Tapete de oração) refere-se à salah, as cinco orações públicas voltadas para Meca que os muçulmanos têm de realizar diariamente. É uma atividade particular, atomizada, mas uma experiência coletiva: crianças e idosos, em tapetes finos ou esteiras de palha, em Meca ou olhando por ela, no cálido verão ou às vésperas do inverno, une todos a devoção.
Prayer Rug
Those intervals
between the day’s
five calls to prayer
the women of the house
pulling thick threads
through vegetables
rosaries of ginger
of rustling peppers
in autumn drying for winter
in those intervals this rug
part of Grandma’s dowry
folded
so the Devil’s shadow
would not desecrate
Mecca scarlet-woven
with minarets of gold
but then the sunset
call to prayer
the servants
their straw mats unrolled
praying or in the garden
in summer on grass
the children wanting
the prayers to end
the women’s foreheads
touching Abraham’s
silk stone of sacrifice
black stone descended
from Heaven
the pilgrims in white circling it
this year my grandmother
also a pilgrim
in Mecca she weeps
as the stone is unveiled
she weeps holding on
to the pillars
(for Begum Zafar Ali)
Tapete de oração
Aqueles intervalos
entre os cinco chamados
de oração do dia
as mulheres da casa
sacando grossos fios
dos vegetais
rosários de gengibre
de chocalhantes pimentas
no outono secando pro inverno
nesses intervalos esse tapete
parte do dote da vovó
dobrado
assim a sombra diabólica
não profanaria
a tecelagem carmim de Meca
com minaretes áureos
mas então o pôr-do-sol
chama a rezar
os serviçais
suas esteiras de palha dispostas
rezando ou no jardim
no verão na grama
as crianças querendo
o fim da oração
as testas das mulheres
tocando a fina pedra
de sacríficio de Abraão
pedra negra descendente
do Paraíso
os peregrinos de branco ao seu redor
esse ano minha avó
também peregrina
lamenta em Meca
conforme a pedra é desvelada
ela lamenta agarrando-se
aos pilares
(Para Begum Zafar Ali)